25 de novembro de 2008

O FESCENINO, RUBEM FONSECA





«Os japoneses têm um provérbio: o sujeito começa a envelhecer quando não quer mais aprender. Meu provérbio é que o sujeito começa a envelhecer quando não quer mais amar, quando perde o entusiasmo pela comunhão sexual, não tem mais coragem de enfrentar a incandescência, os refinamentos eróticos e também as desilusões, aflições e a logística exasperante da aventura amorosa.» DIÁRIO DE UM FESCENINO, Rubem Fonseca




Conheci os livros de Rubem Fonseca quase num acaso. Procurava livros policiais, e fui de encontro a um exemplar da COLECÇÃO MIL FOLHAS nº.87 do Jornal Público - 'O Caso Morel' Na contra capa li o seguinte 'Morel é um homem magro, pálido, cabelos escuros, grisalhos nas têmporas. Rugas fundas cortam seu rosto. Veste uma camisa branca e calça cinza, amassadas. Possivelmente dorme com aquela roupa'. Devo ter dado um sorriso, e pensei - conheço este tipo! Rubem Fonseca vem no arrasto da frase curta. Respira com o bater do teclado, que tanto pode ser no computador como no tamborilar do samba. Ali fuma-se, bebe-se aguardente de borra. Não se lhe chama cachaça, apenas os restos da cana-sacarina. Linguagem directa. Três tiros num charuto, personagem despida e a falar. O homem até foi polícia! Pouco mais pode esconder porque nada tem. Começou o inquérito, rumo ao auto de delito. Todas as personagens de Rubem Fonseca circulam entre a inquietação, a fúria, e a corrosão de sobreviver a este mundo. Escrever a pessoa humana no Eu de tempos distintos, é obra. Soma-lhe a atmosfera do suspense, depois as subversões, mas também as naturais contradições. Rumo preciso e inventariado, ao que chamo de autópsia ao carácter das suas personagens. Lido 'O Caso Morel' juntei-lhe 'MANDRAKE A BÍBLIA E A BENGALA', ainda, 'A GRANDE ARTE' e o 'DIÁRIO DE UM FESCENINO'. Recentemente fizeram-me chegar 'ELA E OUTRAS MULHERES'. Não se encerra, por ora o ciclo do 'Fescenino'. Quando pela primeira vez peguei em 'O CASO MOREL' lembrei-me do Júlio Americano. Personagem que deambulava por Santarém na década de 60 e 70. Vivia de vender papelão, circulava como um dandy entre o sobejo da vida e a citação de grandes clássicos da literatura. Tinha golpe de asa. Rubem Fonseca escreve com essa forma de vida.



(EX)CITAÇÕES:

"Vamos ver se impede a progressão dos professores a três meses das eleições." Mário Nogueira, sindicalista. Fonte: CM.