6 de novembro de 2008

"PÁGINAS" - RUBEN A.


“A vida em Portugal raras vezes se acontece. Temos de ir à procura dela, quando não morremos de tédio. Uma pessoa tem de tomar o comboio, um automóvel, uma laranjada, ou um avião para ir ter com a vida.” Ruben A.





Os livros trouxeram-me o hábito de os procurar, e foi desta forma que numa manhã do já longínquo mês de Abril do século passado, encontrei num alfarrabista de Cascais, o livro "Páginas V" de Ruben A. ou Ruben Alfredo Andersen Leitão.
Trata-se de uma primeira edição, datada de 1967 e dada à estampa pela parceria A.M.Pereira, Ldª. com sede em Lisboa.
Conheci a "personagem" Ruben A. graças ao incansável e não menos criterioso e excelente divulgador cultural, que dá pelo nome de António Mega Ferreira. Falemos então de Ruben A. Na sua época ( 26.05.20/26.09.75) terá tido o privilégio de viver pelo menos 5o anos à frente de tudo. Foi uma espécie de cometa, espalhou o saber e a escrita de tal forma, que ainda hoje se pergunta como é que morrendo aos 55 anos! deixou tamanha obra. A estreia foi na proporção do génio, por isso diferente. Em 1949 surge "Páginas" somatório e cruzamento de diversos géneros literários, tais como a ficção, o diário, e as "impressões" de viagens. Para que se perceba quanto cuidada e diferente era a sua prosa, veja-se os títulos dos capítulos de Páginas V: PÁGINAS DE CASA, Portugal visited-1954; JARDIM ANCORADO; PÁGINAS DE CASA-II; O PROFESSOR E O ARMÁRIO; PÁGINAS AMBULANTES; SHASKESPEARE EM CARNE VIVA; O ESPECTRO DO NATAL; Em 1954 com o romance "CARANGUEJO" define quanto mordaz é a sua prosa, e soma-lhe a desconstrução na totalidade dos chamados eixos narrativos. Ganha uma bronca com o regime, e os pensadores estabelecidos. Em frente pois! Na segunda metade da década de 60, surgem três volumes autobiográficos: O MUNDO À MINHA PROCURA. Direi que, imperdíveis! Em 1973, publica a novela SILÊNCIO PARA 4 ficando ainda na gaveta um romance histórico, KAOS. Autor que se questiona permanentemente, entre o Eu biográfico e a ficção histórica apresenta-se como um escritor que assume as fracturas de identidade. O livro PÁGINAS V que encontrei numa manhã de Abril de 1984, no alfarrabista de Cascais, diz o seguinte a págªs.140 " Os bons-dias começam com Gillette - e depois coloco um tampão supositório para os dejectos saírem pelos restantes orifícios deixados abertos. Ninguém tem a coragem de dizer que somos medíocres, a intriga e a denúncia são a trama dos medianos que nada podem fazer de construtivo. Cobardes no dia-a-dia, esquecem facilmente o que fomos. E a tragédia máxima é que não vivemos europeiamente - isto aqui é um recanto de subalternos a comandarem-se uns aos outros com apitos mal lambidos. "