17 de fevereiro de 2009

LEITURAS: LEONARDO PADURA


''O peculiar tenente Mario Conde está de volta e, com ele, as ruas de Havana. Mas esta cidade é muito diferente da que nos é mostrada nos folhetos turísticos. A Havana de Conde é feita de pessoas, de vidas atribuladas, de memórias, melancolia e esperança. Por isso Um Passado Perfeito transcende o romance policial. Desta feita, a investigação de Mario Conde tem a força de uma viagem ao passado: o desaparecimento de Rafael Morín, seu antigo colega de escola e actual funcionário da nomenclatura cubana, conduz o detective a Tamara, a mulher que sempre amou e que é agora casada com Morín. Mas a exemplar ascensão social do desaparecido parece esconder alguns episódios suspeitos que merecem ser explorados. Enquanto investiga este caso na sua decadente mas adorada Havana, Mario Conde confronta o seu amor fracassado por Tamara e os sonhos e ilusões da sua geração.''
É pena que no posfácio do livro não se faça o alerta. Trata-se de uma ''regressão'' quer na obra do escritor, assim como ''na vida'' de Mario Conde. O livro data de 1999, logo chega uma década depois a Portugal. Felizmente antes tarde, que nunca!
OUTRAS CONVERSAS
''Aproveito para falar de um dos meus preferidos: o cubano Leonardo Padura.Estão vários livros dele publicados em Portugal. Tenho-o seguido com prazer. A sua escrita anda dentro da matriz em que se enquadram o Pepe Carvalho de Montalban e o Montalbano de Camilleri, entre outros. Há dois que me tocaram particularmente, "Morte em Havana" e "Adeus, Hemingway". Hoje falo de "A neblina do Passado".É uma espécie de bolero melancólico, apaixonado, decadente. A escrita de Padura é assim. Envolve-nos. Parece que nos ignora e de repente percebemos que estamos presos na malha do escritor, que nos identificamos com o seu personagem, Mário Conde e as suas intuições, a sua dignidade e os seus lamentos. E parece que somos amigos e dávamos tudo para estar ao lado daqueles amigos excessivos e trágicos de Mário Conde, ex-polícia, homem de princípios inabaláveis que põe a amizade e a ética acima de tudo o mais.Nos seus livros, Padura critica claramente o regime cubano pela sua decadência, pela miséria e pela corrupção. Mas percebemos que é um homem que não quer voltar atrás embora tenha muito pouca fé no futuro.A narrativa é musical, saudosista, mergulha no passado para nos falar de uma Cuba onde a história deixou muita gente nas pregas dos seus desejos e onde as memórias ainda podem ser escaldantes e perigosas.Padura continua a sua magnífica personagem, Mário Conde, que bebe demais, faz grandes jantaradas com os amigos quando tem dinheiro, que é de uma incorruptível fidelidade aos seus princípios e à sua amante, Tâmara, que adora livros, sonha ser escritor, encontra-se em sonhos com Sallinger, o seu escritor preferido, e que se apaixona por uma voz que vem do passado num único disco de vinil.É como se o autor se dirigisse a nós, leitores, e nos arrastasse para a pista de dança quando a pesada noite tropical nos envolve e as palavras nos convidam para o veneno de um bolero. Que mais se pode querer?''
Fonte: José Fanha, inhttp://7leitores.blogspot.com