29 de junho de 2009

PORTUGUÊS SUAVE


OUTRAS CONVERSAS
"Sinto por ele, Eça, depois de ler a biografia da Doutora Filomena Mónica, a nostalgia que se sente diante das grandes figuras de tragédia – mas uma tragédia silenciosa, surda, mais distante do que Havana, mais distante do que Newcastle, ou Bristol, ou Paris, alimentada por um desejo profundo de beleza. Uma beleza que não encontrou na Pátria e que colocou nas melhores páginas dos seus romances. Pessoalmente, lamento apenas que Eça não tenha valorizado a Sra. condessa de Gouvarinho, com o seu perfume de verbena e os seus cabelos ruivos, o seu desejo de infidelidade e de romance. Sei que não esperavam este reparo, vindo de um Matusalém minhoto, o mais reaccionário membro de uma família de Moledo e Ponte de Lima, mas peço que compreendam: naquele mundo corrompido pela política e pelo dinheiro, pela ignorância e pela preguiça, retratado com o génio e o talento dos grandes retratistas, faz falta alguém que genuinamente deseje o pecado e não o disfarce com literatura ou virtudes cívicas.É isso que, no fundo, me aproxima de Eça de Queirós: o seu cepticismo. Os Homem, derrotados na primeira metade do século XIX e educados pelas catástrofes políticas, julgaram que a eternidade não existia. Esqueceram-se de Eça de Queirós."
FONTE: Excerto do texto de Dr. António Sousa Homem, escrito para a apresentação da biografia de Eça de Queirós, de Maria Filomena Mónica, in http://quetzal.blogs.sapo.pt/