20 de fevereiro de 2010

PORTUGUÊS SUAVE

(EX)CITAÇÕES
«Mas, o país é, na realidade, monárquico? Se o país é monárquico, porque falham todas as tentativas de incursão? E porque falham da mesma forma todas as tentativas cá dentro, até à última aventura da Traulitânia, com o Norte sublevado? Se o país fosse monárquico, a república já não existia. Bastava um sopro para a derrubar.É que o país não é monárquico. Há uma minoria monárquica, capaz de sofrer e de morrer, como há a gente de Lisboa e Porto republicana, disposta a todos os sacrifícios. A grande massa inerte adapta-se a todos os regimes – a D. Miguel, rei absoluto, ou a D. Manuel, rei constitucional, à república com Deus ou à república com o diabo – molda-se a todas as aventuras que triunfem. Pior, meu Deus, pior! O país é egoísta, e a gente viva de Lisboa e Porto, capaz de morrer nas ruas, essa é inteiramente republicana. Talvez quem tenha razão seja Junqueiro, quando diz (1919): - o país para o que está preparado é para um saque! – Com que conta esta gente do passado? Frustradas as tentativas de incursão armada – como era de prever – adoptou outro processo, que gorou dum dia para o outro, porque Couceiro, mais uma vez, como soldado irrequieto, deu o golpe inesperado da Traulitânia.»Fonte:BRANDÃO, Raúl – Memórias (tomo III). Obras completas, vol. I. Lisboa: Relógio D’Agua, 2000, p. 57-58