24 de abril de 2012

Abril e os seus fantasmas

Diz a lenda que em matéria de naufrágios quando os ratos abandonam o navio, a coisa vai mesmo ao fundo. Lembrei-me desta analogia, porque nas vésperas de mais uma comemoração do 25 de Abril não só a associação de militares que representa esse ideal, mas também um ex-presidente da república, e um deputado eleito para o parlamento, dizem não participarem na sessão parlamentar,  por discordarem da política actual do governo. No meu entender,  trata-se de mais uma argolada nata. Qual a diferença destas posições, para o discurso - de sempre -  de Otelo Saraiva de Carvalho? Creio que nenhuma. Ambas as posições retiram legitimidade ao parlamento, e à democracia. 
Goste-se ou não, vivemos numa democracia parlamentar. O governo e o presidente da república resultaram de eleições livres, e foram escolhidos pelos portugueses. Não foram impostos. 
Quando um ex-presidente da república, assim como um deputado parlamentar eleito, dizem «eu não vou» passam para o outro lado da barricada, ou seja legitimam aqueles que numa minoria pensam (se pudessem agiriam) em nome de uma imensa maioria. 
Este é mais um triste episódio da república, e de alguns dos seus defensores. Até parece que não têm as chamadas «culpas no cartório» pelo estado a que tudo isto chegou. Sair pela porta das traseiras não limpa, nem encobre passados. Os militares de Abril não mereciam nada destas diabruras. Desse fantástico dia, recordo as palavras de Francisco Sousa Tavares. Da guarita do Carmo, a liberdade através de um megafone.