9 de maio de 2012

Em português (muito) suave


"O velho Doutor Homem, meu pai, ria desta profissão de fé. Ele era um estrangeirado que, com vinte e dois anos teve a graça de umas férias inglesas. Essas “férias inglesas”, que ficaram famosas depois, foram a consequência de um velho distúrbio familiar, segundo o qual em Portugal não se aprende grande coisa. Bastava a um Homem cruzar a imaginária linha de fronteira que separava a verdura de Valença da desolação de Tuy, ou atravessar as primeiras montanhas das Astúrias (de comboio), a caminho de Paris, para se transformar num cidadão do mundo. Anos mais tarde, o meu pai confidenciou-me que isso se devia à teimosia dos Homem em aceitar que a Pátria tinha mudado consideravelmente, mais do que podia a compreensão da velha família espalhada pelo Porto, por Ponte de Lima e pelo arvoredo dos Arcos." Fonte: António Sousa Homem, in Em Certos Aspectos