30 de agosto de 2015

Coisas de domingo



"Verkhovenski e Stavróguin são os líderes de uma célula revolucionária russa. O seu objectivo é derrubar o governo, destruir a sociedade e tomar o poder. Mas quando o grupo está prestes a ser descoberto uma questão se coloca. Estarão os seus elementos dispostos a matar-se uns aos outros para encobrir o seu rasto? O romance baseia-se, em parte, na história de um estudante assassinado pelos seus colegas revolucionários. Mas é também uma descrição da Rússia do século XIX e uma violenta acusação contra os que usam a violência em nome dos seus princípios. Tolerado por Lenine, banido por Estaline, cujo regime parece ter antecipadamente previsto, Dostoievski só seria redescoberto na URSS a partir dos anos 60 do século XX. É que a extrema atenção com que o autor de "Os Demónios" seguia os acontecimentos da sua época permitiu-lhe prever os excessos e sofrimentos para que o seu país caminhava. «Os romances de Dostoievski representam graus sucessivos de uma busca da existência de Deus; neles é elaborada uma profunda e radical filosofia da acção humana. Os heróis de Dostoievski estão embriagados de ideias e consomem-se no fogo da linguagem.» «Muito do mal que torna sombrio "Os Demónios" resulta da profanação ou perversão do amor (...), o modo como Stavróguina esvazia a alma dos homens para que os demónios nela possam entrar pode ser visto, com extraordinária força e equilíbrio dramático, no episódio da reunião em casa de Verkhovenski. A cena é a Última Ceia e o modo de a tratar é ao mesmo tempo irónico e elegíaco. (...) Não podemos esgotar os significados de Stavróguin, como não podemos esgotar os de Hamlet ou do Rei Lear.» (George Steiner, "Tolstói ou Dostoievski") " Fonte: FNAC.