18 de março de 2017

O elefante de porcelana


Em casa dos meus pais havia por lá um elefante de porcelana. Como na época era um puto de tenra idade, olhei sempre o dito elefante como muito grande, assombroso - aquilo era algo de intocável. Aliás, às primeiras perguntas - «Mãe, aquilo serve para quê?» sempre ouvi, - « não partam o elefante! » e a resposta vinha no plural, porque éramos dois a olhar o bicho de porcelana. Tantas perguntas fiz, que um dia a minha mãe quebrou os seus silêncios de magistério, - « filho, aquilo não serve para nada, apenas é um enfeite, e ainda por cima, é oco por dentro.» Não devo ter percebido nada mas mesmo nada, do que me foi à época explicado, sei que o enfeite perdurou por muitos anos na casa do Cartaxo, mas também ignoro qual foi o seu destino. Lembrei-me do Elefante de Porcelana por causa de pequenos génios, quais enfeites, ainda por cima ocos, que vieram tomar conta de muitas empresas na sequência da dita bolha económica. Como a minha saudosa mãe dizia, « enfeites...não servem para nada. »